segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Da causa das enxaquecas.

Ontem foi uma dor de cabeça terrível. Hoje são náuseas e um peso imenso no estômago. Dores pelo corpo há muito que tenho, e já estou acostumado com um mal – estar constante e desgraçado. Tudo “coisa da cabeça”. Meu psiquismo quer me dizer algo, e como não dou ouvidos às suas súplicas, ele decidiu manifestar seu desconforto pelo meu corpo todo. Como se não bastasse, estão todos a falar em enxaqueca. O que vem a ser isso, pois bem, deixo aos profissionais da medicina, que a definam. O que me prende a estas linhas, e é bom definirmos logo, não é a manifestação da doença em si, mas a sua possível causa. Qual é, afinal, a real causa dos nossos mais profundos problemas? Qual é a causa das nossas enxaquecas?
São duas da manhã e você ainda não pegou no sono. Acorda atrasado para o trabalho e sai correndo porta afora sem ver direito a cor da camisa que vestiu. Chega ao trabalho e vê que esqueceu o relatório para a reunião das oito, a qual você também já está atrasado. Entra sorrateiramente, sem fazer um barulho sequer, nem senta pra não ter que arrastar a cadeira, e ali mesmo, em pé, na frente de toda a equipe, você é forçado a dar explicações sobre um relatório que está em cima da escrivaninha da sala da sua casa. Tudo isso por conta de uma ansiedade prescrita, em querer promover – se a todo custo, um sonho idealizado pelo desejo, e concretizado na arrogância dos nossos dias corridos e tensos.
Os motivos que nos levam a bater de frente com os nossos problemas, são os mesmos que nos movem em busca dos nossos sonhos. Aí está um grande paradigma do nosso tempo. Não sabemos a razão das dores de cabeça, da falta de ânimo, das tensões e das brigas, mas sabemos a direção que damos no leme da vida. Há uma ilusão profundamente calcada no imediatismo, no prazer a todo custo, e de repente todos os nossos grandes sonhos aparecem em uma mais doze sem juros no cartão. Isso é tão sutil, tão pertinente e tão superficial, prende - nos de forma tão lógica, que tentar sair do ciclo vicioso criado para o nosso dia - a – dia torna – se tarefa das mais penosas.
Parar o tempo para curtir a família é privilégio de poucos. Encontrar os amigos apenas no final de semana não supre nossa carência. Por mais amigos que tenhamos, de nada adianta se não encontramos a quem nos escute verdadeiramente. Só nos resta refletir nossos atos, ler muito e tentar encarar a vida de um jeito diferente. Pois a nossa rotina dificilmente mudará. Nossos problemas dificilmente cessarão. Provavelmente nunca teremos tempo de passar um feriado com a família para então dizer o quanto somos importantes uns aos outros. E o grande paradigma existencial vai se reduzir à maneira como lemos o mundo, como interpretamos tudo o que nos acomete. A frustração vem quando pensamos fazer a coisa certa e obtemos os mesmos resultados fracassados. Mudar para onde? Ler o que? Pensar de que maneira? Ser quem de mim?
Se não há amor pela vida, nem vida há! As futilidades passam, o que fica são as pessoas. Os dias levam nossas angústias, só não levam nossa glória. Talvez adquirir enxaqueca significa tornar – se humano, numa época em que o valor está na máquina e o amor está no cartão de crédito. Uma forma de lembrarmos que ainda somos humanos. Uma forma de dizer que temos problemas e precisamos é de seres humanos para tornar nossa vida cada dia melhor. Interpretar o mundo como uma enxaqueca generalizada, só nos deixará ainda mais doentes. Ver os dias como dádivas de uma existência potencialmente satisfatória, nos deixará livres para amar e viver cada dia como se fosse o último.

Thiago de Letras.